quinta-feira, dezembro 09, 2010


Só numa multidão de amores



Eles não estavam trocando juras de amor, não andavam de mãos dadas, nem se chamavam por nomes infantis. Não tinha pieguice romântica ali. Mas foi a cena mais doce que eu vi: dois olhares se encontrando. Não só se encontrando: se confortando, se sabendo, se completando. Eu notei que eles eram algo além de amigos, que se desejavam e se protegiam, e foi só pela cumplicidade dos olhos, que deixavam de ser dois e se enlaçavam quatro.

Eu quis então ter um olhar pra mim. Não alguém pra chamar de meu, como diz o clichê, como grita a conveniência, mas um olhar que fosse meu por puro encaixe. Foi um pouco de inveja, talvez. Eu soube naquelas duas pessoas que elas não se sentiam sozinhas ou perdidas. Que mesmo depois de um dia cheio e chato, tinham uma certeza de carinho. E eu quis. Quis algo além da rotina do trabalho e gente fabricada com seus narizes perfeitos e cabelos penteados. Quis algo certo como o frio na barriga e a respiração travada, o coração esquecendo de bater. Quis algo errado que me fizesse bem só por escapar do caminho óbvio de toda noite. Uma espera no fim do dia, sabe? Essa espera. Não a espera de uma vida toda sem saber o que buscar pra ser feliz. Só sair do dia igual pra ter uma noite diferente. E tornar esse diferente comum só porque é bom estar perto.

Todo o amor que eu sufoquei por excesso de razão agora grita, escapa, transborda. Estou só numa multidão de amores, assim como Dylan Thomas, assim como Maysa, assim como milhões de pessoas; assim como a multidão de amores está só, em si. Demonstro minha fragilidade, meu desamparo. Eu não procuro alguém pra pentencer e ter posse, só quero uma fonte segura de amor que não dependa das obrigações, das falas decoradas, dos scripts prontos. Eu sei que eu abri mão de várias oportunidades. Sei que fiz pouco caso do amor que me entregaram de maneira pura e gratuita, só porque eu achava que podia encontrar coisa melhor. Se as pessoas estão sempre indo e vindo, eu só queria alguém minimamente eterno em sua duração, que me fizesse parar de achar normal essa história de perder as pessoas pela vida.

Vou embora querendo alguém que me diga pra ficar. Estou sempre de partida, malas feitas, portas trancadas, chave em punho. No fundo eu quero dizer "Me impede de ir. Fica parado na minha frente e fala que eu tenho lugar por aqui, que não preciso abandonar tudo cada vez que a solidão me derruba. Me ajuda a levar a vida menos a sério, porque é só vida, afinal." E acabo calada, porque não faz sentido dizer tudo isso sem ter pra quem.

Eu não quero viver como se sobrevivesse a cada dia que passo sozinha. Não quero andar como se procurasse meu complemento em cada olhar vago. Eu acho que mereço mais que isso por tudo o que eu sei que posso fazer por alguém. E fico só esperando, na surpresa do dia que eu desencanar de esperar, um par de olhos que me faça ficar sem nenhuma palavra, nada além de dois olhos se enlaçando quatro. Nessa multidão de amores, sozinho é aquele que não espera.

Por

 Verônica Heiss

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Lembranças




Toda vez que chega dezembro, eu volto a relembrar tudo o que eu tive em um ano. Conheci pessoas maravilhosas, me apaixonei muuuito, e cresci tanto por dentro quanto por fora! O meu jeito de ver o mundo, de encarar as coisas com mais maturidade, me mostrou que esse ano não foi como todos os outros, que nele eu vivi tudo o que eu planejava nos meus mais queridos sonhos.
Na verdade, nem pra tanto, mas cheguei quase perto. Cresci, vivi, aprendi tantas coisas, vivendo intensamente tantas vezes em um pequeno período de um ano que muita gente ainda não viveu. E quer saber? Não me arrependo de nada. Absolutamente nada!
Foi assim que deixei de ser uma menininha medrosa que odiava pensar que um dia teria responsabilidades, que teria que pensar por conta própria e teria que ter as suas próprias idéias, e não a dos outros. Porque finalmente ela cresceu! E sonha cada vez mais alto, ao que o céu acima dela, e ao que o Deus dela permitir. As suas idéias, suas opiniões estão crescendo cada vez mais, e sempre mais.
No meu colégio, tive experiências de todos os tipos, junto com os meus amigos. E isso na verdade foi o que eu sempre quiz: ter algo para contar algum dia, quando eu já estiver casada com os meus tantos filhos. Fortaleci amizades que se tornaram pra vida inteira, que estaram junto comigo no altar.
E quer saber, todos os erros que eu cometi, cada arrependimento, cada besteira que eu fiz, me trouxe aqui firme e forte, e feliz.
Eu não acredito no certo, ou no errado, ou no impossível. Eu acredito em opiniões, que são formadas e assim trazem sua própria conclusão.



Ameei! Amei e me apaixonei tantas vezes quanto me foram permitidas. Sonhei com o meu principe encantado, e acordei sorrindo. Cantei no chuveiro tantas vezes junto com a minha escova, igual uma rockeira dopada. Sorri firmemente, acreditando que por mais que eu estivesse triste, isso amanhã iria mudar. Que sempre pela madrugada, alguém pode te fazer rir, ou que um pote de sorvete pode estar esperando por você. Chorei muitas vezes de raiva, e tantas por muita besteira. Por coisas que no dia seguinte eu me olhei no espelho e disse pra mim mesma "por que por isso?". Dancei valsa com os meus melhores amigos, e chorei bem no fundo, pelo ano que vem que se aproxima a cada minuto, me distanciando de cada um deles. Que por mais que eu tente, o destino diz "Talvez a gente se encontre em outras bandas, por outros caminhos que se cruzam." Fui ao meu baile de formatura muito bem acompanhada. Senti o ar de Contos de Fadas soprando as mechas do meu cabelo enquanto eu fazia a minha entrada de formandos, junto ao meu par.
Vi que dali pra frente tudo seria diferente, não extraordinário, mas diferente. Que eu poderia escolher de que modo eu poderia ser mais feliz, e assim buscar a minha felicidade todo dia. Viver como alguém no seu último dia de vida, e passar a amar mais cada pessoa que te ama e quer estar perto de você. Ser autêntica, e ter mais atitude. Analizar cada coisa que me vier, para ver se é o certo pra mim.

Porque viver é assim. É intenso, é dolorido, esquisito, tudo muito mal resolvido. Mas quando você encontra o seu lugar no mundo, e se encaixa na sua melhor parte do quebra cabeça, você pode olhar ampliado, com uma visão do mundo só sua, autêntica, realista, mas que você sente o orgulho de ser o que você pôde fazer sozinha.
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